domingo, 18 de março de 2012

As mulheres e o Heavy Metal: as pioneiras

    Tão logo teve início a década de 1980, o Heavy Metal se viu revigorado com inúmeras novas bandas, período esse que ficou conhecido como New Wave Of British Heavy Metal, NWOBHM. Com essa safra de novos grupos, vieram também mulheres com o intuito de contribuir para essa revitalização e consolidação da música pesada.
    O primeiro grupo com participação feminina a atingir certo nível de reconhecimento nesse período foi o Girlschool, uma versão metálica do The Runaways, salvo as devidas proporções, já que as semelhanças acabam no fato de que ambos os grupos contavam apenas com mulheres em seus line-ups. O Girlschool surgiu em 1978, das cinzas de uma antiga banda chamada Painted Lady, que contava com Kim McAuliffe, guitarrista e vocalista, e Dinah 'Enid' Williams, baixista, que se eram colegas de escola. Após o fim dessa primeira empreitada musical, recrutaram Denise Dufort (irmã de Dave Dufort, que participou do Angel Witch e Tytan) para assumir a bateria e a guitarrista Kelly Johnson e assim tinha início o Girlschool. Com a gravação da demo Demo 1978 e o single Take It All Away (1979), o som das garotas chamou a atenção de Lemmy Kilmister, eterno líder do Motörhead, que se tornou uma espécie de padrinho da banda, tanto que em 1979 foram elas que abriram parte dos shows da turnê de divulgação de Overkill (1979). No meio de 1980, foi lançado o álbum Demolition, graças a um contrato viabilizado por Lemmy, que trazia "Emergency" e "Race With the Devil" (cover do The Gun, que foi gravado também pelo Judas Priest). A parceria com o Motörhead deu tão certo que foi gravado um EP das duas bandas em conjunto, St. Valentine's Day Massacre (1981), sendo que essa união é por vezes conhecida por Headgirl. Em seguida a banda gravou Hit And Run (1981) e Screaming Blue Murder (1982), sendo banda de abertura de nomes como Black Sabbath, Rainbow, Iron Maiden, e outras. 

As garotas do Girlschool em 1980: consideradas as primeiras mulheres do Heavy Metal

    Com as gravações acima e participações ao lado de grandes nomes do Hard Rock e Heavy Metal, o Girlschool seguiu a trilha de outras bandas inglesas rumo aos EUA, que era a maior "vitrine" musical do mundo à época. Com isso vieram drásticas mudanças na sonoridade do grupo, uma vez que o mercado fonográfico norte-americano estava mais voltado para o que viria a ser denominado Glam Metal. E para não perder a viagem, literalmente, as garotas tentaram se encaixar nesse panorama musical. E com isso veio Play Dirty (1894), que já não teve a repercussão esperada. Após a  saída de Kelly Johnson, a banda gravou Running Wild (1985), que foi um grande fracasso comercial. Com isso se dava o fim do sonho das garotas em se tornarem grandes nomes do Heavy Metal, fazendo com que retornassem ao status de banda underground, como estão até hoje. Contudo, a importância e o pioneirismo do Girlschool não foram esquecidos e serviram de grande incentivo para aquelas que ainda iriam trilhar o caminho do Heavy Metal. 

Girlschool em 1984: as mudanças musicas vieram também acompanhadas por mudanças no visual, a fim de atingir o mercado norte-americano.

    Durante o período da NWOBHM surgiu também o Rock Goddess, que a exemplo do Girlschool, também era formada somente por mulheres, mas não chegou a ser tão expressiva quanto esta última, em parte por ter surgido na mesma época e não ter tido a "sorte" que as garotas do Girlschool tiveram, como o contato com Lemmy. Vale salientar que mesmo para o Girlschool, o início não foi um mar de rosas, e elas enfrentaram muita resistência, até mesmo dos outros integrantes do Motörhead. Ainda que praticamente restrita ao underground, O Rock Goddess é uma banda relevante em termos de participação feminina no Heavy Metal, numa época onde o acesso das mulheres à esse gênero musical era extremamente difícil. O Rock Goddess foi formado pelas irmãs Jody (guitarrista e vocalista) e Julie Turner (baterista) em 1977, cujo pai era dono de uma loja de artigos musicais. Com a gravação do single Heavy Metal Rock'n'Roll (1982), foram convidadas a participar do Reading Festival de 1982, e conseguiram um contrato para a gravação do álbum Rock Goddess (1983), com a baixista Tracey Lamb, que logo deixaria a banda, que contaria com Dee O'Malley, que gravaria Hell Hath No Fury (1983) e Young and Free (1987). Em 1987, devido a falta de um contrato com alguma gravadora, a banda deu fim às suas atividades, ainda com algumas tentativas de retorno.

Rock Goddess em 1983.

    Entretanto, o ponto alto da participação feminina na década de 1980 ainda estava por vir. Em 1983, em Dusseldorf, Alemanha, surgia o Warlock, que tinha como vocalista Dorothee Pesch, conhecida por Doro Pesch, além de Peter Szigeti (guitarra), Rudy Graf (guitarra), Michael Eurich (bateria) e Frank Rittel (baixo). Após um período tocando em pequenas casas e clubes da região e com a gravação de uma demo (Demo 1983), a banda conseguiu um contrato com o selo Mausoleum, o que permitiu a gravação do debut Burning the Witches (1984). O sucessor, Hellbound (1985), trazia alguns elementos de Hard Rock, o que não foi de modo algum prejudicial à sonoridade típica do grupo e permitiu uma turnê por parte da Europa. A partir de então, a banda sofreu mudanças constantes, sendo que Doro foi o único integrante a permanacer o tempo todo com o Warlock. Nesta época, Rudy Graf deu lugar a Niko Arvanitis. 

Warlock em 1986.

   Essa nova formação gravou o terceiro álbum, True As Steel (1986), que levou o grupo ao festival Monsters of Rock, onde naquele ano passaram nomes com Scorpions e Def Leppard e também abriu as portas para o grupo nos EUA, reconhecimento devido principalmente ao single "Fight For Rock". O que se sucedeu foram mais mudanças na formação, com a substituição de Frank Rittel e Peter Szigeti por Tommy Bolan e Tommy Henriksen, respectivamente. E foi esse o line-up responsável pela gravação do quarto e último álbum do Warlock, Triumph And Agony (1987), que foi também aquele a atingir maior sucesso, alavancado principalmente pelo single "All We Are", cujo clipe foi bastante transmitido pela MTV. Após a turnê de divulgação de Triumph And Agony, surgiram diversos problemas devidos aos direitos relacionados ao nome Warlock. É conhecido que a banda tinha o quinto álbum já gravado, que já tinha até um título, Force Majeure, mas devido a estes problemas, este álbum foi lançado com o nome de Doro, e não mais do Warlock. E com isso se deu o início da carreira solo daquela que muitos clamam como a Rainha do Metal, que perdura até hoje e é sem dúvida a maior inspiração para as mulheres que sentem o Heavy Metal correndo em suas veias.

Capa de Force Majeure (1989): primeiro registro da carreira solo de Doro, porém gravado sob o nome Warlock.
  
    Os nomes mais expressivos da década de 1980, em termos da presença feminina no Heavy Metal, vieram do velho continente, como visto acima. Entretanto, os EUA também teriam suas representantes. Além disso, com a evolução deste gênero, em termos de peso e velocidade, vieram também outras mulheres com o intuito de levantar a bandeira do Heavy Metal, o que será explorado na próxima postagem.
  

Um comentário:

  1. Muito boa a matéria! é sempre bom reconhecer quem ajudou a consolidar o Metal!

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