O Heavy Metal se tornou ao longo dos
anos, perante o senso comum, um estilo musical extremamente machista, além de
outras "qualidades" altamente difundidas, em parte devido aos meios
de comunicação, e que são em sua maioria resultado de mal intepretação ou puro
preconceito. Pelo fato de o Heavy Metal preconizar temáticas que usualmente vão
contra os valores pré-estabelecidos pela sociedade em geral, e
que normalmente são abordados de uma forma agressiva, seja do ponto de vista
musical ou no conteúdo das letras, se tornou um gênero musical que não
combinava com o que era proposto como a natureza feminina, em essência o
"sexo frágil", segundo os padrões sociais vigentes, predominantemente
machistas. Mas, contrariando todos os prognósticos, nos dias de hoje é relativamente
fácil encontrar mulheres envolvidas com o Heavy Metal (felizmente!), o que
ocorreu conforme se deu uma maior divulgação e quebra de alguns paradigmas, ou
mitos, relacionados ao Heavy Metal ao longo dos anos, e que atingiu o seu ponto
alto com a avalanche de grupos de Gothic Metal na última década, liderado
principalmente pelo Nightwish. Entretanto, a caminhada das mulheres dentro da
música pesada remonta aos anos 1960, quando pela primeira vez se viu uma mulher
entre os gigantes desse meio sempre taxado por ser exclusividade dos homens.
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Nightwish na época de Tarja Turunen: apesar de bem sucedida comercialmente, é só a ponta do iceberg em termos de inclusão das mulheres no Heavy Metal.
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O primeiro passo para a inserção
das mulheres no Rock foi dado por Janis Joplin. A carreira de Janis Joplin se
deu no período que o Rock passava por suas primeiras transformações, se
distanciando da fórmula que imortalizou nomes como Elvis Presley, Chuck Berry,
Roy Orbison, entre outros. Janis trouxe muita influência do Blues e do Folk
para a sua música, o que a colocou na vanguarda de sua época. Teve seu início
musical, a nível profissional, quando integrou um grupo de São Francisco
chamado Big Brother and the Holding Company, uma das bandas precursoras do
movimento hippie. Nessa época, Janis já era conhecida pelo seu envolvimento com
álcool e drogas pesadas, como anfetaminas e heroína. Mas foi em carreira solo,
a frente de um grupo por ela batizado Kozmic Blues Band que Janis atingiu o
estrelato, se apresentando em diversos programas de TV, o que lhe garantiu
grande popularidade. Mas o ápice da carreira de Janis Joplin veio com a
apresentação no Woodstock Music & Art Fair, ou Woodstock, o lendário
festival de 1969. No início de 1970, Janis deu início a um novo grupo, Full
Tilt Boogie Band, com o qual chegou a tocar ao lado do Grateful Dead.
Entretanto, a escalada na carreira de Janis foi acompanhada com o consumo cada
vez maior de entorpecentes, sendo que no dia 4 de Outubro de 1970, após um
atraso em um dos ensaios do Full Tilt Boogie Band, o produtor à época a
encontrou morta, devido a uma overdose de heroína, que se acredita ter ocorrido
em combinação com altas doses de álcool. Ainda que tenha morrido jovem, aos 27
anos, a carreira de Janis Joplin foi mais do suficiente para que fossem abertas
as portas para as mulheres no meio do Rock.
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Janis Joplin em 1969, no festival Woodstock.
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A exemplo de Janis Joplin,
outras mulheres também lutaram pelo seu espaço dentro do Rock, ainda que não
tenham conseguindo o mesmo nível de reconhecimento. O Jefferson Airplane,
estabelecido em São Francisco, também conseguiu atingir certo patamar de
popularidade quando teve Grace Slick como vocalista. Grace trouxe duas
composições a serem gravadas no álbum Surrealistic Pillow (1967), as quais
foram intituladas "Somebody To Love" e "White Rabbit". Coincidência ou não, foram os dois maiores sucessos da carreira do Jefferson Airplane,
e figuram na lista "500 Greatest Songs of All Time" publicada pela
Rolling Stone. O auge do Jefferson Airplane se deu durante o período que teve
Grace como vocalista, o que se mostrou um incentivo para uma maior participação
feminina dentro no universo do Rock. O Fleetwood Mac, que foi um fenômeno na
década de 1970 contava com Christine McVie como tecladista. Sua participação
sempre foi expressiva dentro do grupo, contribuindo com composições entre as
mais importantes dos emblemáticos álbuns Fleetwood Mac (1975) e Rumours (1977),
que atingiu o topo das paradas norte-americanas e chegou a receber o Grammy
naquele ano. Outra mulher que foi símbolo da escalada feminina dentro do Rock
foi Suzi Quatro, cujos álbuns, principalmente aqueles gravados durante o início
dos anos 1970, conseguiriam atingir vendagens expressivas na Europa e
Austrália.
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Grace Slick em 1969: uma das responsáveis pelo sucesso do Jefferson Airplane. |
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Suzi Quatro em 1973, umas das embaixadoras britânicas das mulheres no Rock. |
Mas contribuição mais direta do
que as listadas acima seria dada pelo The Runaways, primeira banda de Rock
formada apenas por mulheres a atingir um nível significativo de reconhecimento.
O grupo foi idealizado por Joan Jett, guitarrista, no fim de 1975 e contava
inicialmente com Sandy West na bateria e Micki Steele como baixista e
vocalista. Em 1976 o grupo recrutou Lita Ford, apresentando assim duas
guitarristas. Com a expulsão de Steele, a banda trouxe Cherrie Currie e Jackie
Fox, para os vocais e baixo, respectivamente. Neste mesmo ano o The Runaways
gravou o seu primeiro álbum, autointitulado, e abriu shows de bandas como Cheap
Trick e Van Halen. Com o segundo álbum, Queens Of The Noise (1977), a banda
conseguiu reconhecimento a nível mundial, mas começava a se distanciar do Hard
Rock e se aproximar do Punk Rock que surgia na época. A turnê mundial desse
álbum levou ao primeiro ao vivo, Live in Japan (1977). A banda teve a saída de
Cherrie Currie, com a posterior gravação de um novo álbum, Waitin' For The
Night (1978). Entretanto, pouco tempo depois da gravação do próximo álbum, And
Now... The Runaways (1978), o grupo se desfez devido principalmente a problemas
financeiros e relacionados ao gerenciamento da banda. Contudo, o legado do The
Runaways ficou para a história e teve grande impacto sobre as mulheres que
ainda iriam trilhar o caminho do Heavy Metal. Vale lembrar que Lita Ford e Joan Jett
tiveram carreiras solo bem prolíficas, principalmente ao longo da década seguinte.
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As garotas do The Runaways em 1976: talvez o maior incentivo a presença das mulheres no Heavy Metal.
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As bandas e artistas acima foram aquelas que tiveram maior impacto direto na inclusão das mulheres na música pesada e foram de vital importância para a entrada das mulheres no terreno mais extremo da música naquele momento: o Heavy Metal, o que viria a acontecer tão logo desse início a década de 1980, com o revival do estilo, conhecido como NWOBHM, que será discutido na próxima postagem.
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