segunda-feira, 12 de março de 2012

As mulheres e o Heavy Metal: as precursoras

      O Heavy Metal se tornou ao longo dos anos, perante o senso comum, um estilo musical extremamente machista, além de outras "qualidades" altamente difundidas, em parte devido aos meios de comunicação, e que são em sua maioria resultado de mal intepretação ou puro preconceito. Pelo fato de o Heavy Metal preconizar temáticas que usualmente vão contra os valores pré-estabelecidos pela sociedade em geral, e que normalmente são abordados de uma forma agressiva, seja do ponto de vista musical ou no conteúdo das letras, se tornou um gênero musical que não combinava com o que era proposto como a natureza feminina, em essência o "sexo frágil", segundo os padrões sociais vigentes, predominantemente machistas. Mas, contrariando todos os prognósticos, nos dias de hoje é relativamente fácil encontrar mulheres envolvidas com o Heavy Metal (felizmente!), o que ocorreu conforme se deu uma maior divulgação e quebra de alguns paradigmas, ou mitos, relacionados ao Heavy Metal ao longo dos anos, e que atingiu o seu ponto alto com a avalanche de grupos de Gothic Metal na última década, liderado principalmente pelo Nightwish. Entretanto, a caminhada das mulheres dentro da música pesada remonta aos anos 1960, quando pela primeira vez se viu uma mulher entre os gigantes desse meio sempre taxado por ser exclusividade dos homens.

Nightwish na época de Tarja Turunen: apesar de bem sucedida comercialmente, é só a ponta do iceberg em termos de inclusão das mulheres no Heavy Metal.
       O primeiro passo para a inserção das mulheres no Rock foi dado por Janis Joplin. A carreira de Janis Joplin se deu no período que o Rock passava por suas primeiras transformações, se distanciando da fórmula que imortalizou nomes como Elvis Presley, Chuck Berry, Roy Orbison, entre outros. Janis trouxe muita influência do Blues e do Folk para a sua música, o que a colocou na vanguarda de sua época. Teve seu início musical, a nível profissional, quando integrou um grupo de São Francisco chamado Big Brother and the Holding Company, uma das bandas precursoras do movimento hippie. Nessa época, Janis já era conhecida pelo seu envolvimento com álcool e drogas pesadas, como anfetaminas e heroína. Mas foi em carreira solo, a frente de um grupo por ela batizado Kozmic Blues Band que Janis atingiu o estrelato, se apresentando em diversos programas de TV, o que lhe garantiu grande popularidade. Mas o ápice da carreira de Janis Joplin veio com a apresentação no Woodstock Music & Art Fair, ou Woodstock, o lendário festival de 1969. No início de 1970, Janis deu início a um novo grupo, Full Tilt Boogie Band, com o qual chegou a tocar ao lado do Grateful Dead. Entretanto, a escalada na carreira de Janis foi acompanhada com o consumo cada vez maior de entorpecentes, sendo que no dia 4 de Outubro de 1970, após um atraso em um dos ensaios do Full Tilt Boogie Band, o produtor à época a encontrou morta, devido a uma overdose de heroína, que se acredita ter ocorrido em combinação com altas doses de álcool. Ainda que tenha morrido jovem, aos 27 anos, a carreira de Janis Joplin foi mais do suficiente para que fossem abertas as portas para as mulheres no meio do Rock.

Janis Joplin em 1969, no festival Woodstock.
       A exemplo de Janis Joplin, outras mulheres também lutaram pelo seu espaço dentro do Rock, ainda que não tenham conseguindo o mesmo nível de reconhecimento. O Jefferson Airplane, estabelecido em São Francisco, também conseguiu atingir certo patamar de popularidade quando teve Grace Slick como vocalista. Grace trouxe duas composições a serem gravadas no álbum Surrealistic Pillow (1967), as quais foram intituladas "Somebody To Love" e "White Rabbit". Coincidência ou não, foram os dois maiores sucessos da carreira do Jefferson Airplane, e figuram na lista "500 Greatest Songs of All Time" publicada pela Rolling Stone. O auge do Jefferson Airplane se deu durante o período que teve Grace como vocalista, o que se mostrou um incentivo para uma maior participação feminina dentro no universo do Rock. O Fleetwood Mac, que foi um fenômeno na década de 1970 contava com Christine McVie como tecladista. Sua participação sempre foi expressiva dentro do grupo, contribuindo com composições entre as mais importantes dos emblemáticos álbuns Fleetwood Mac (1975) e Rumours (1977), que atingiu o topo das paradas norte-americanas e chegou a receber o Grammy naquele ano. Outra mulher que foi símbolo da escalada feminina dentro do Rock foi Suzi Quatro, cujos álbuns, principalmente aqueles gravados durante o início dos anos 1970, conseguiriam atingir vendagens expressivas na Europa e Austrália. 

Grace Slick em 1969: uma das responsáveis pelo sucesso do Jefferson Airplane.

Suzi Quatro em 1973, umas das embaixadoras britânicas das mulheres no Rock.
  
        Mas contribuição mais direta do que as listadas acima seria dada pelo The Runaways, primeira banda de Rock formada apenas por mulheres a atingir um nível significativo de reconhecimento. O grupo foi idealizado por Joan Jett, guitarrista, no fim de 1975 e contava inicialmente com Sandy West na bateria e Micki Steele como baixista e vocalista. Em 1976 o grupo recrutou Lita Ford, apresentando assim duas guitarristas. Com a expulsão de Steele, a banda trouxe Cherrie Currie e Jackie Fox, para os vocais e baixo, respectivamente. Neste mesmo ano o The Runaways gravou o seu primeiro álbum, autointitulado, e abriu shows de bandas como Cheap Trick e Van Halen. Com o segundo álbum, Queens Of The Noise (1977), a banda conseguiu reconhecimento a nível mundial, mas começava a se distanciar do Hard Rock e se aproximar do Punk Rock que surgia na época. A turnê mundial desse álbum levou ao primeiro ao vivo, Live in Japan (1977). A banda teve a saída de Cherrie Currie, com a posterior gravação de um novo álbum, Waitin' For The Night (1978). Entretanto, pouco tempo depois da gravação do próximo álbum, And Now... The Runaways (1978), o grupo se desfez devido principalmente a problemas financeiros e relacionados ao gerenciamento da banda. Contudo, o legado do The Runaways ficou para a história e teve grande impacto sobre as mulheres que ainda iriam trilhar o caminho do Heavy Metal. Vale lembrar que Lita Ford e Joan Jett tiveram carreiras solo bem prolíficas, principalmente ao longo da década seguinte.

As garotas do The Runaways em 1976: talvez o maior incentivo a presença das mulheres no Heavy Metal.
    As bandas e artistas acima foram aquelas que tiveram maior impacto direto na inclusão das mulheres na música pesada e foram de vital importância para a entrada das mulheres no terreno mais extremo da música naquele momento: o Heavy Metal, o que viria a acontecer tão logo desse início a década de 1980, com o revival do estilo, conhecido como NWOBHM, que será discutido na próxima postagem.
               

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