sexta-feira, 29 de junho de 2012

Os grandes festivais de Heavy Metal (Parte IV)

    Entre o fim da década de 1980 e início dos anos 1990 tiveram início alguns dos mais memoráveis festivais da história do Heavy Metal até então. E dentre eles, estão dois que são o alvo deste artigo: o Dynamo Open Air e o Wacken Open Air.
    Já na segunda metade da década de 1980, mais precisamente em 1986, foi realizada a primeira edição do Dynamo Open Air, em Eindhoven, Holanda. À princípio, o evento tinha o intuito de comemorar o 5º aniversário do Dynamo Rock Club, um renomado bar destinado ao Heavy Metal, localizado na cidade de Eindhoven, mas devido ao sucesso vertiginoso do evento, se tornou um dos mais importantes festivais de Heavy Metal do mundo. O Dynamo Open Air conseguiu reunir inúmeros nomes importantes ao longo dos anos, com diversas apresentações memoráveis, como foi o caso do Metal Church em 1991. O Exodus, um dos ícones do Thrash Metal da Bay Area, teve suas apresentações de 1985 e 1997 lançadas no DVD intitulado "Double Live Dynamo" (2005), que contam com o lendário frontman Paul Baloff em ambas as ocasiões. Outro ponto alto do festival foi a apresentação do Death em 1998, já divulgando o que seria o último álbum do grupo, The Sound of Perseverance (1998). Em 1999, Chuck Schuldiner, eterno vocalista, guitarrista e líder do Death, foi diagnosticado com um tumor maligno no cérebro, que o deixou extremamente debilitado e demandava um tratamento de custo consideravelmente alto. Com isso, a apresentação no Dynamo Open Air, que o grupo havia gravado, foi lançada como álbum ao vivo e DVD, Live In Eindhoven '98 (2001), sendo que o valor arrecadado seria empregado no tratamento de Chuck, a exemplo do álbum e DVD Live in LA (2001). Entretanto, pouco mais de um mês após esses lançamentos, Chuck veio a falecer, vítima de uma pneumonia em decorrência de fragilidade da sua saúde. Além das bandas citadas acima, várias outras se apresentaram nos palcos deste festival, sendo que, em meados dos anos 1990 o festival chegou a contar com mais de 50 bandas em algumas de suas edições, entre elas as brasileiras Sepultura, em 1990 e Overdose, em 1995. Entretanto, o Dynamo Open Air teve seu fim em 2005, após quase duas décadas trazendo inesquecíveis apresentações de alguns dos grandes nomes do Heavy Metal.

Cartaz de divulgação da edição de 1991 do Dynamo Open Air.

Capa do álbum ao vivo do Death, gravado em 1998, no Dynamo Open Air.

    O Wacken Open Air teve sua primeira edição em 1990, e desde então é sempre realizado na pequena cidade de Wacken, no norte da Alemanha. Inicialmente, a produção do evento tinha como objetivo um pequeno festival, reunindo apenas bandas do Heavy Metal underground alemão. Entretanto, o sucesso do festival foi tamanho que em sua terceira edição, em 1992, já contava com Saxon e o ainda ascendente Blind Guardian. E daí em diante, o resto é história. A maioria dos grandes nomes da história do Heavy Metal já passaram pelo WOA, como Iron Maiden, Judas Priest, Ozzy Osbourne e Slayer, para citar alguns. Com o passar do tempo o Wacken teve o seu nome cada vez mais consolidado entre os grandes festivais, e hoje ostenta o título de mais importante festival de Heavy Metal da atualidade, fazendo com que a população de Wacken, que beira os 2 mil habitantes, em condições normais, ultrapasse os 80 mil nos 3 dias de festival. Mais uma amostra da importância deste festival perante os headbangers é que seus ingressos costumam estar esgotados meses antes da realização do evento. Inúmeras apresentações nos palcos do Wacken já foram gravadas e posteriormente lançadas, nos mais diversos formatos, como o caso daquele que deveria ser o show de despedida do Running Wild dos palcos, no WOA 2009, lançado sob o título The Final Jolly Roger (2011), em CD e DVD.

Cartaz de divulgação da primeira edição do Wacken Open Air, em 1990.
 
    A importância do Dynamo Open Air e do Wacken Open Air é indiscutível quando se pensa em festivais de Heavy Metal. Contudo, alguns festivais se tornaram referência na cena metálica ainda que não fossem uma exclusividade de grupos desse gênero, como o Sweden Rock Festival e o Ozzfest, que serão explorados no próximo artigo.

domingo, 6 de maio de 2012

Os grandes festivais de Heavy Metal (Parte III)

     Outro festival que ficou eternizado na história do Heavy Metal, ainda que fosse um tanto eclético, foi a segunda edição do US Festival, inicialmente idealizado por Steve Wozniak, um dos fundadores da Apple, a famosa empresa de tecnologia. Em sua primeira edição, em 1982, o cast do festival não trazia nenhuma banda de Heavy Metal, e contou com grupos como The Kinks, Ramones e Fleetwood Mac. Mas em 1983, o festival foi dividido de forma a ter cada um de seus quatro dias dedicados a um gênero específico. E o dia 29 de Maio foi escolhido para as apresentações dos representantes da música pesada, e ficou consequentemente conhecido por Heavy Metal Day. Neste dia o público presente in San Bernardino, California, acompanhou apresentações memoráveis de Mötley Crüe, Scorpions, Triumph, Ozzy Osbourne, Judas Priest, Quiet Riot e Van Halen. Um dos fatos curiosos é que o The Clash, banda de encerramento do primeiro dia do festival, dia anterior ao Heavy Metal Day, exigiu que parte do lucro da organização do evento e cachês pagos aos artistas fossem revertidos em obras de caridade, o que não agradou os integrantes do Van Halen. Isso somado à atritos entre as duas bandas durante o processo de divulgação do evento gerou vários episódios de agressão verbal por parte dos dois grupos.
Cartaz de divulgação do Heavy Metal Day do US Festival, 1983.

      A exemplo do US Festival, que apesar de não ser um festival exclusivo de Heavy Metal, dedicou um dia de sua programação à esse estilo, assim foi o Rock in Rio, primeiro grande festival de nível internacional a ocorrer em solo brasileiro. O sucesso do Rock in Rio foi devido, entre outros fatores, principalmente por ter trazido grandes nomes da música à época, como Queen, Yes e Rod Stewart, além dos artistas oriundos do Heavy Metal. Graças ao Rock in Rio pela primeira vez o público brasileiro pode conferir as performances ao vivo de Iron Maiden, Ozzy Osbourne, Scorpions, AC/DC e Whitesnake. Um fato curioso relacionado à participação do Whitesnake nesse festival foi não estarem inicialmente escalados para fazer parte do cast, que contava inicialmente com o Def Leppard. Entretanto, duas semanas antes do evento o baterista do Def Leppard, Rick Allen, sofreu um grave acidente, ocasionando a perda de seu braço esquerdo. Frente a este ocorrido, a produção optou por substituí-los pelo Whitesnake. Esse fato foi decisivo na crescente popularidade do grupo liderado por David Coverdale no Brasil, assim como a ausência do Def Leppard fez com que nunca atingissem aqui um patamar de reconhecimento comparável ao que tiveram nos EUA - obtiveram disco de diamante nos EUA com Pyromania (1983) e Hysteria (1987). Esse festival remete também a um infeliz episódio da ainda recente história do Heavy Metal nacional à época, ocorrido durante a cobertura do festival pela Rede Globo, no qual a repórter Glória Maria pela primeira vez mencionou o termo "metaleiro" a fim de designar os fãs de Heavy Metal.

Programação da primeira edição do Rock in Rio, 1985.

    As edições seguintes do Rock in Rio também passaram a ter um dia destinado exclusivamente à música pesada, trazendo ao longo das esporádicas edições nomes consagrados como Judas Priest, Megadeth, Sepultura, Metallica, entre outras. Nos anos 2000 o festival passou a ter edições também em Lisboa e Madri.
    Na metade dos anos 1980 surgiu o Live Aid, um festival que visava arrecadar fundos para programas de caridade, principalmente àqueles que tivessem como objetivo o combate à fome no continente africano. Nesta época tinha se tornado comum iniciativas desse tipo por parte de artistas, principalmente músicos e atores. Ainda que o Live Aid não tenha alcançado grande expressividade em termos de um festival de Heavy Metal, e de fato não o foi, vale ser lembrado pelo seguinte episódio: foi a primeira vez que Ozzy se reunia a Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward, os outros três integrantes originais do Black Sabbath, desde a sua expulsão definitiva do grupo, em 1979. Entretanto, o tempo destinado ao grupo permitiu apenas três músicas: Children Of The Grave, Iron Man e Paranoid. No mesmo evento se apresentou também o Judas Priest, encerrando a participação metálica no Live Aid.

Primeira reunião da formação original do Black Sabbath, antes da apresentação no Live Aid, 1985.
   
     Na segunda metade da década de 1980 teve início um dos maiores festivais exclusivos de Heavy Metal, o Dynamo Open Air, com sede na Holanda. Contemporâneos a este são o Wacken Open Air e o Sweden Rock Festival, os mais lôngevos e importantes festivais de Heavy Metal da atualidade, os quais serão abordados na próxima postagem.

domingo, 15 de abril de 2012

Os grandes festivais de Heavy Metal (Parte II)

     Com o início da década de 1970 vieram diversas mudanças no panorama musical, sendo uma das mais importantes, sem dúvida, o surgimento de novos direcionamentos, que foram batizados como Heavy Metal e Hard Rock, tendo seu alicerce principalmente em grupos como Black Sabbath, Deep Purple e Led Zeppelin. E tão logo se deu a consolidação desses novos estilos, seus pioneiros também seriam lembrados por memoráveis apresentações em festivais.
     Um dos festivais mais importantes dos anos 1970 foi sem duvida o California Jam, ou simplesmente Cal Jam, realizado em abril de 1974. Ainda que o festival viesse a ter uma segunda edição em 1978, seria a primeira a entrar para a história, na qual se apresentariam Black Sabbath e Deep Purple, e ainda Emerson, Lake and Palmer. O ponto alto deste festival foi a apresentação do Deep Purple, a qual foi uma das primeiras aparições da formação conhecida como Mk 3, que trazia David Coverdale nos vocais e Glenn Hughes no baixo e backing vocals, em substituição a Ian Gillan e Roger Glover, respectivamente. Ao término do show, Ritchie Blackmore, o guitarrista da banda, lançou várias guitarras em direção ao público e usou uma delas para agredir um dos câmeras que estavam trabalhando na transmissão do festival, por parte de uma emissora de televisão. Reza a lenda que Blackmore pediu pra não ter o seu lado direito filmado, e o câmera não cumpriu essa exigência, fazendo com que Blackmore ficasse irritado a ponto de atacá-lo. Como se isso não bastasse, ao término do show estava prevista uma sessão de efeitos pirotécnicos, o que gerou uma explosão e colocou o palco em chamas, mas há quem diga que foi o próprio Blackmore que ateou fogo nos amplificadores. A banda logo deixou o local de helicóptero, de acordo com algumas pessoas, para não serem presos devido ao incêndio envolvendo os amplificadores. Mitos à parte, o Deep Purple lançou a sua apresentação em dois diferentes formatos: um CD intitulado California Jamming (1996), e um DVD, cujo título é Live in California 74 (2005).

Poster de divulgação do California Jam.
Capa e contra-capa de Live In California 74, apresentação do Deep Purple no California Jam.

     Ainda que o California Jam tenha contado com dois dentre os grandes nomes do Heavy Metal (Black Sabbath e Deep Purple), não era um festival de Heavy Metal propriamente dito. O primeiro grande festival de Heavy Metal em sua essência teve início em 1980, batizado de Monsters Of Rock, sendo chamado por alguns também pelo local onde aconteciam as apresentações, Donington Park ou Castle Donington, no interior da Inglaterra. Este festival se mostrou tão bem sucedido que em 1983 já era realizado também na Alemanha e no fim da década de 1980 já tinha atingido a Itália, Bélgica, Espanha, Suécia e França. Nos anos 1990 alguns países da América do Sul também se tornaram sedes do Monsters Of Rock, como Chile, Brasil e Argentina. Praticamente todos os grandes nomes do Heavy Metal e Hard Rock passaram pelos palcos das diversas edições do Monsters Of Rock. Para citar alguns: Iron Maiden, Black Sabbath, AC/DC, Metallica, Whitesnake, Motörhead, Mötley Crüe, Def Leppard, e muitos outros. Além disso, diversas bandas lançaram álbuns e vídeos de seus shows realizados nas inúmeras edições do Monsters Of Rock ao redor do mundo. Em 2003 o festival teve o seu nome alterado para Download Festival, mas continua a acontecer anualmente em Donington Park. Entretanto, o Download Festival apresentou certa abertura em termos de um maior ecletismo nas atrações, que atualmente não são mais restritas ao Hard Rock e Heavy Metal.

Cartaz de divulgação da primeira edição do Monsters Of Rock, em 1980.
Poster com o cast da última edição do Monsters Of Rock no Brasil, em 1998.
    O sucesso dos festivais acima serviu de incentivo para a idealização e produção de muitos outros eventos visando o Heavy Metal, dos mais diversos formatos e dimensões. Entre estes estão o Dynamo Open Air, lendário festival holândes, bem como o dia dedicado ao Heavy Metal no norte-americano US Festival, os quais serão abordados na próxima postagem.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Os grandes festivais de Heavy Metal (Parte I)

    Assim como diversos elementos e características marcantes do Heavy Metal podem ter suas origens rastreadas até os idos dos anos 1960, os grandes festivais da música pesada também foram inspirados por análogos surgidos nessa década, alguns dos quais tomariam parte importante na história do Rock em sua totalidade.
    Ná década de 1960, mas especificamente em sua segunda metade, a Califórnia presenciava uma grande efervescência cultural, principalmente com a escalada do movimento hippie, que tinha a sua ideologia calcada na contra-cultura em relação a conjuntura sócio-política do momento, lembrando que foi nessa década que a Guerra Fria atingiu o seu auge, cujo ponto de maior impacto para a sociedade norte-americana foi, sem dúvida, a Guerra do Vietnã. Assim, surgiram diversas bandas, muitas delas de Rock, formadas principalmente por estudantes das universidades californianas, que estavam muito atrelados ao ativismo a favor da difusão da contra-cultura que pregravam, o que culminou na organização de diversos festivais culturais, os quais traziam além de música, outras expressões artísticas, como pintura e literatura. O primeiro evento a ser classificado como um festival de Rock propriamente foi o Fantasy Fair and Magic Mountain Music Festival, em Junho de 1967. Esse festival foi o pontapé inicial para a consolidação desse tipo de evento, nos quais as bandas se apresentavam a céu aberto. Destaque para nomes como The Doors e Jefferson Airplane,  ambos em início de carreira, e Dionne Warwick.

Cartaz de divulgação do Fantasy Fair and Magic Mountain Music Festival, em Mount Tamalpais, Califórnia, 1967.

    Uma semana após o Fantasy Fair and Magic Mountain Music Festival, teve início um dos festivais mais emblemáticos dessa época, o Monterey International Pop Music Festival, que se estima que tenha concentrado cerca de 90 mil pessoas. Esse festival trouxe nomes que seriam imortalizados na história do Rock, como Jefferson Airplane, The Who, Jimi Hendrix, Janis Joplin e The Mamas & The Papas. Além disso, algumas outras atrações foram cogitadas, mas por motivos diversos não fizeram parte do festival, como é o caso do The Doors, The Kinks e até os Beatles. Pelo fato de terem conseguido reunir nomes como os citados acima, esse festival é sempre colocado entre os mais importantes em termos de ter reunido grande parte daqueles que viriam a ser consolidar como as pedras fundamentais de todas as vertentes vindouras do Rock.
Cartaz de divulgação do Monterey International Pop Festival, o qual traz os nomes das atrações mais importantes.

    Nessa época surgiram inúmeros festivais, sendo que o verão de 1967 ficou conhecido como "O verão do Amor" (tradução livre de Summer of Love). Neste ponto, a atmosfera cultural e artística da Califórnia ja havia atingido o outro lado do país, em especial a região de New York, o que deu origem a inúmeros outros eventos aos moldes dos citados acima por todo o país. Contudo, nenhum festival dessa época seria tão emblemático quanto o Woodstock Music & Art Fair, ou simplesmente, Woodstock, no verão de 1969, festival esse que é considerado por muitos como o maior festival de Rock de todos os tempos e que contou com cerca de 500 mil pessoas. Assim como o festival de Monterrey, Woodstock trouxe inúmeros artistas hoje consagrados, entre eles Jimi Hendrix, Janis Joplin, Santana, The Who, Jefferson Airplane, Mountain, Creedence Clearwater Revival, Ten Years After, Grateful Dead, e muitos outros. Além disso, o festival de Woodstock se tornou um dos símbolos máximos da contra-cultura proposta pelo movimento hippie, ajudando a imortalizar o tema "Paz e Amor".

Cartaz de divulgação do lendário festival de Woodstock, em 1969.

    A virada da década traria profundas mudanças no panorama musical, entre elas o surgimento do que viriam a ser conhecidos como Hard Rock e Heavy Metal. Ainda que estes estilos nascentes apresentem uma certa ruptura com o que foi o Rock dos anos 1960, os festivais continuariam a fazer parte do cronograma de atividades das bandas surgidas a partir de então, como será abordado na próxima postagem.

As mulheres e o Heavy Metal : Adendo

    Este adendo tem como objetivo resumir as últimas postagens referentes à contribuição feminina no Heavy Metal e encorajar os leitores do blog a conhecerem as obras desses grupos. A seguinte lista foi feita em termos dos álbuns mais representativos lançados por bandas que apresentaram mulheres em seus line-ups, e em momento algum pretende ser um guia definitivo ou abarcar todos os lançamentos do Heavy Metal no qual se observa a presença de mulheres nas formações das respectivas bandas. A lista segue a sequência cronológica das postagens anteriores.

  • Girlschool - Demolition (1980)
  • Warlock - Triumph And Agony (1987)
  • Rock Goddess - Rock Goddess (1983)
  • Bitch - Be My Slave (1983)
  • Chastain - Mystery Of Illusion (1985)
  • Chastain - For Those Who Dare (1990)
  • Blacklace - Unlaced (1984)
  • Meanstreak - Road Kill (1988)
  • Znöwhite - All Hail To Thee (1984)
  • Phantom Blue - Phantom Blue (1989)
  • Holy Moses - The New Machine Of Liechtenstein (1989)
  • Acid - Acid (1983)
  • Ice Age - Rock Solid (1986)
  • Sentinel Beast - Depths Of Death (1986)
  • Détente - Recognize No Authority (1986)
  • Hellion - Screams In The Night (1987)
  • Bolt Thrower - Realm Of Chaos (Slaves To Darkness) (1989)
  • Volkana - First (1991)
  • Valhalla - ...In The Darkness Of Limb (1994)
  • Flammea - Hell Is Here (1988)

terça-feira, 3 de abril de 2012

As mulheres e o Heavy Metal: Speed, Thrash e Death Metal

     A evolução do Heavy Metal, levando a vertentes mais pesadas e rápidas, começou a se moldar ainda nos primeiros anos da década de 1980, onde podemos citar nomes como Metallica, Slayer, Venom, entre outros. Entretanto, foi na segunda metade dessa década que se viu o amadurecimento e consolidação desses estilos nascentes, o que foi acompanhado também pela crescente presença feminina no Heavy Metal.
     Em 1980 se deu a formação do grupo alemão Holy Moses. No fim de 1981, o vocalista Wolfgang "Iggy" Dammers deu lugar a Sabina Classen, e foi com ela que o grupo amadureceu e consegui relativo reconhecimento, principalmente devido a demo Walpurgis Night (1985). Em 1986, um ano chave para o Thrash Metal, o Holy Moses lançou Queen Of Slam (1986) e se consolidou com os dois álbuns seguintes, Finished With The Dogs (1987) e The New Machine Of Liechtenstein (1989), dividindo o palco com bandas como Agent Steel, D.R.I., Forbidden, e participando do Dynamo Open Air, um dos mais memoráveis festivais de Heavy Metal. Em seguida se deram diversos problemas devido à instabilidade da formação, banda se deu por encerrada após a gravação de No Matter What's The Cause (1994), que gerou certo descontentamento entre os fãs, no qual era nítido um novo direcionamento na sonoridade do grupo. Felizmente, a banda voltou às atividades em 2001, e está ativa até o momento, sendo um ponto de referência para as mulheres em termos da contribuição feminina para as vertentes mais extremas do Heavy Metal.

Capa e contra-capa de Queen Of Slam (1986), debut do Holy Moses.

     Além do Holy Moses, outras mulheres se aventuraram para além da fronteira do Heavy Metal tradicional. Da Bélgica veio o Acid, criado em 1980 e que se tornou um dos símbolos do Speed Metal dessa década. A banda trazia Kate De Lombaert como vocalista e que conseguiu um notável conhecimento no circuito do Heavy Metal europeu, principalmente na primeira metade da década de 1980. Em 1985 foi fundado o Ice Age, banda sueca de Thrash Metal que contava apenas com mulheres em sua formação. Ainda que apresentem uma discografia formada apenas por demos, ou seja, infelizmente não tenham gravado nenhum full-lenght, chegaram a conseguir certa popularidade dentro do underground

Acid, no início dos anos 1980.
Ice Age, em 1988.

     Já do outro lado do Atlântico, em 1984 surgia o Sentinel Beast, que trazia como vocalista Debbie Gunn, que fez parte do Ice Age e substituiu Nicole Lee quando esta deixou o Znöwhite, ou seja, fez parte de três nomes importantes na conquista do espaço das mulheres na música pesada. Ainda que a discografia do Sentinel Beast seja um tanto restrita, com um único full-lenght, Depths Of Death (1986), a banda conta com certo prestígio dentro do underground, tanto que em 2007 a banda anunciou o retorno de suas atividades. Em 1986 era lançado também o primeiro álbum do Détente, Recognize No Authority (1986) que trazia um Thrash Metal com pitadas de Punk Rock e Hardcore, e tinha como destaque o vocal furioso e rasgado de Dawn Crosby, que viria a liderar o Fear of God, banda criada por ela assim que o Détente chegou ao fim. O grupo retornou no fim dos anos 2000, e chegou a lançar o álbum Decline (2010), sendo que viria a anunciar seu fim pouco tempo após esse lançamento. Tão logo a banda anunciou seu retorno, Ann Boleyn assumiu os vocais, sendo que esta se tornou conhecida por sua presença à frente do Hellion, grupo de Speed Metal norte-americano.

Sentinel Beast na época do lançamento de Depths Of Death (1986).

     O fim da década de 1980 marcou o aparecimento da forma mais extrema do Heavy Metal, o Death Metal, como ficou conhecido. O nascimento dessa nova vertente é costumeiramente atribuído às bandas de Tampa, Florida, entre as quais, as mais importantes são Death, Cannibal Corpse, Deicide e Morbid Angel. Entretanto, nessa mesma época, surgia um dos maiores nomes do Death Metal britânico, o Bolt Thrower. O grupo teve início com Gavin Ward (baixo) e Barry Thomsom (guitarra), com a posterior admissão do baterista Andrew Whale e do vocalista Alan West, e com essa formação o grupo gravou sua primeira demo, In Battle There Is No Law (1987). Gavin Ward decidiu passar a tocar guitarra, e recrutaram um novo baixista para a gravação da segunda demo. Entretanto, o novo baixista não apareceu durante as gravações, o que fez com que Gavin Ward gravasse o baixo e as guitarras da demo Concession Of Pain (1987), e em seguida colocasse a sua namorada, Jo Bench, como baixista do grupo. Esse evento é considerado por muitos como a primeira incursão das mulheres no metal da morte. Assim que assinou com a Earache, a banda lançou Realm Of Chaos (1989), figurando entre os outros grandes nomes do selo, como Morbid Angel e Napalm Death. O Bolt Thrower continua na ativa, e apesar de algumas mudanças em sua formação, continua a contar com trabalhos de Jo Bench.

Jo Bench em 1989.

    Com o passar do tempo, as mulheres tiveram cada vez mais espaço dentro do Heavy Metal, e também cruzando novas fronteiras dentro do universo da música pesada, como é o caso do Astarte, para citar um exemplo, banda grega de Black Metal cuja formação conta apenas com mulheres. Mais recentemente viu-se o crescimento do Gothic Metal, onde grande parte das bandas conta com mulheres como vocalistas. É importante lembrar que o Brasil teve também suas "divas", numa época em que o apoio e estrutura eram praticamente nulos quando comparados aos grandes centros do Heavy Metal, a exemplo de nomes como Flammea, Volkana e Valhalla, para citar algumas, e que de certa forma pavimentaram o caminho para as demais headbangers brasileiras.

Volkana em 1991.

sábado, 24 de março de 2012

As mulheres e o Heavy Metal: EUA

     Na primeira metade da década de 1980, podem ser reconhecidos basicamente três pólos principais quanto ao envolvimento e importância em relação ao Heavy Metal, que são eles Inglaterra, Alemanha e EUA. Nas postagens anteriores já foram abordadas as bandas provenientes destes países europeus, sendo que no presente artigo o enfoque será dado a contribuição por parte das bandas norte-americanas.
    Apesar de não ter alcançado o mesmo nível de popularidade do Warlock e Girlschool, o Bitch, creditada como a primeira banda de Heavy Metal norte-americana a contar com uma integrante do sexo feminino, foi também importante. Um fato curioso é que essa foi a primeira banda a assinar um contrato com o lendário selo Metal Blade, responsável por revelar nomes como Metallica, Slayer e Armored Saint, entre outros. Esse contrato garantiu a aparição da banda na antológica coletânea Metal Massacre, com a faixa "Live For The Whip", em 1982, que contava também com Metallica, Ratt e Cirith Ungol. A vocalista, Betsy Weiss, ou Betsy Bitch, como ficou conhecida, tinha um visual e performance bem peculiares, que remetiam ao sadomasoquismo, e lembravam bastante Alice Cooper e Rob Halford, e por causa disso, chegou a ser "vítima" do PMRC (Parental Music Resource Center). O lançamento do primeiro álbum, Be My Slave (1983), permitiu que o grupo por diversas vezes dividisse o palco com nomes como WASP e Armored Saint. O grupo chegou a lançar mais um álbum, The Bitch Is Back (1987), e após o EP A Rose By Any Other Name (1989) a banda encerrou as atividades. Entretanto, em 2011, Betsy anunciou o retorno da banda.

Capa do álbum Be My Slave (1983), onde fica bem evidente o visual adotado pela vocalista Betsy Bitch.

    O Bitch foi marco-zero da participação feminina na música pesada norte-americana, mas não foi a única banda a contar com as mulheres. Pelos idos de 1984, o jovem David T. Chastain chamava atenção com sua habilidade como guitarrista e deu início ao Chastain, cujas atividades matinha em paralelo a outro grupo, o CJSS. Tentando se destacar em relação às demais bandas dessa época, ele vislumbrou a ideia de trazer uma mulher para assumir os vocais da banda, posto que viria a ser ocupado por Leather Leone. Leather Leone gravou cinco álbuns com o Chastain: Mistery of Illusion (1985), Ruler Of The Wasteland (1986), The 7th Of Never (1987), The Voice of the Cult (1988) e For Those Who Dare (1990), cujo clipe gravado para a faixa-título chegou a ser divulgado pelo MTV Headbangers Ball. A banda retornou alguns anos após esse último lançamento, contando com Kate French para o posto de Leather Leone, a qual ainda está à frente do Chastain. Ainda que não tenha atingido o sucesso e reconhecimento do Girlschool e Warlock, o Chastain foi outro grande nome na divulgação e consolidação das mulheres dentro do Heavy Metal. 

Chastain, na época da vocalista Leather Leone.

    Há ainda outros exemplos, de menor magnitude no Heavy Metal dos EUA, como é o caso do Blacklace, que foi liderado por Maryann Scandiffio e chegou a gravar Unlaced (1984), que foi relançado como Skull 8348, e Get It While It's Hot (1985). Em 1985 era formado o Meanstreak, que viria a lançar o full-lenght Roadkill (1988). Um fato curioso sobre as integrantes do Meanstreak é que Rena Sands (guitarra) e Lisa Pace (baixo) são casadas com John Petrucci e John Myung, guitarrista e baixista do Dream Theater, respectivamente, e Marlene Apuzzo (guitarra) é casada com o ex-baterista do Dream Theater, Mike Portnoy. Outro exemplo é o Znöwhite, que teve em seus primeiros anos a vocalista Nicole Lee, responsável por todas as gravações do grupo, mas que infelizmente ficou limitado ao underground. Já o Phantom Blue, gravou o seu primeiro álbum, Phamtom Blue (1989) com co-produção de Marty Freidman, lendário guitarrista do Megadeth, e assim como o Girlschool, contou com a ajuda de um nome de peso na cena musical da Califórnia, que no caso foi Don Dokken e com isso conseguiram um contrato com um novo selo, o que permitiu a gravação de Build To Perform (1993). Mas após um período de instabilidade, a banda decidiu por encerrar suas atividades.

Meanstreak, na segunda metade da década de 1980.
Arte da capa do primeiro álbum (homônimo, 1989) do Phantom Blue.
   A participação feminina no meio metálico não ficaria restrita apenas àquele som mais tradicional, mas acompanharia as drásticas mudanças que levariam às vertentes mais extremas do Heavy Metal, como o Thrash Metal e Death Metal, e é disso que iremos tratar na próxima postagem.

domingo, 18 de março de 2012

As mulheres e o Heavy Metal: as pioneiras

    Tão logo teve início a década de 1980, o Heavy Metal se viu revigorado com inúmeras novas bandas, período esse que ficou conhecido como New Wave Of British Heavy Metal, NWOBHM. Com essa safra de novos grupos, vieram também mulheres com o intuito de contribuir para essa revitalização e consolidação da música pesada.
    O primeiro grupo com participação feminina a atingir certo nível de reconhecimento nesse período foi o Girlschool, uma versão metálica do The Runaways, salvo as devidas proporções, já que as semelhanças acabam no fato de que ambos os grupos contavam apenas com mulheres em seus line-ups. O Girlschool surgiu em 1978, das cinzas de uma antiga banda chamada Painted Lady, que contava com Kim McAuliffe, guitarrista e vocalista, e Dinah 'Enid' Williams, baixista, que se eram colegas de escola. Após o fim dessa primeira empreitada musical, recrutaram Denise Dufort (irmã de Dave Dufort, que participou do Angel Witch e Tytan) para assumir a bateria e a guitarrista Kelly Johnson e assim tinha início o Girlschool. Com a gravação da demo Demo 1978 e o single Take It All Away (1979), o som das garotas chamou a atenção de Lemmy Kilmister, eterno líder do Motörhead, que se tornou uma espécie de padrinho da banda, tanto que em 1979 foram elas que abriram parte dos shows da turnê de divulgação de Overkill (1979). No meio de 1980, foi lançado o álbum Demolition, graças a um contrato viabilizado por Lemmy, que trazia "Emergency" e "Race With the Devil" (cover do The Gun, que foi gravado também pelo Judas Priest). A parceria com o Motörhead deu tão certo que foi gravado um EP das duas bandas em conjunto, St. Valentine's Day Massacre (1981), sendo que essa união é por vezes conhecida por Headgirl. Em seguida a banda gravou Hit And Run (1981) e Screaming Blue Murder (1982), sendo banda de abertura de nomes como Black Sabbath, Rainbow, Iron Maiden, e outras. 

As garotas do Girlschool em 1980: consideradas as primeiras mulheres do Heavy Metal

    Com as gravações acima e participações ao lado de grandes nomes do Hard Rock e Heavy Metal, o Girlschool seguiu a trilha de outras bandas inglesas rumo aos EUA, que era a maior "vitrine" musical do mundo à época. Com isso vieram drásticas mudanças na sonoridade do grupo, uma vez que o mercado fonográfico norte-americano estava mais voltado para o que viria a ser denominado Glam Metal. E para não perder a viagem, literalmente, as garotas tentaram se encaixar nesse panorama musical. E com isso veio Play Dirty (1894), que já não teve a repercussão esperada. Após a  saída de Kelly Johnson, a banda gravou Running Wild (1985), que foi um grande fracasso comercial. Com isso se dava o fim do sonho das garotas em se tornarem grandes nomes do Heavy Metal, fazendo com que retornassem ao status de banda underground, como estão até hoje. Contudo, a importância e o pioneirismo do Girlschool não foram esquecidos e serviram de grande incentivo para aquelas que ainda iriam trilhar o caminho do Heavy Metal. 

Girlschool em 1984: as mudanças musicas vieram também acompanhadas por mudanças no visual, a fim de atingir o mercado norte-americano.

    Durante o período da NWOBHM surgiu também o Rock Goddess, que a exemplo do Girlschool, também era formada somente por mulheres, mas não chegou a ser tão expressiva quanto esta última, em parte por ter surgido na mesma época e não ter tido a "sorte" que as garotas do Girlschool tiveram, como o contato com Lemmy. Vale salientar que mesmo para o Girlschool, o início não foi um mar de rosas, e elas enfrentaram muita resistência, até mesmo dos outros integrantes do Motörhead. Ainda que praticamente restrita ao underground, O Rock Goddess é uma banda relevante em termos de participação feminina no Heavy Metal, numa época onde o acesso das mulheres à esse gênero musical era extremamente difícil. O Rock Goddess foi formado pelas irmãs Jody (guitarrista e vocalista) e Julie Turner (baterista) em 1977, cujo pai era dono de uma loja de artigos musicais. Com a gravação do single Heavy Metal Rock'n'Roll (1982), foram convidadas a participar do Reading Festival de 1982, e conseguiram um contrato para a gravação do álbum Rock Goddess (1983), com a baixista Tracey Lamb, que logo deixaria a banda, que contaria com Dee O'Malley, que gravaria Hell Hath No Fury (1983) e Young and Free (1987). Em 1987, devido a falta de um contrato com alguma gravadora, a banda deu fim às suas atividades, ainda com algumas tentativas de retorno.

Rock Goddess em 1983.

    Entretanto, o ponto alto da participação feminina na década de 1980 ainda estava por vir. Em 1983, em Dusseldorf, Alemanha, surgia o Warlock, que tinha como vocalista Dorothee Pesch, conhecida por Doro Pesch, além de Peter Szigeti (guitarra), Rudy Graf (guitarra), Michael Eurich (bateria) e Frank Rittel (baixo). Após um período tocando em pequenas casas e clubes da região e com a gravação de uma demo (Demo 1983), a banda conseguiu um contrato com o selo Mausoleum, o que permitiu a gravação do debut Burning the Witches (1984). O sucessor, Hellbound (1985), trazia alguns elementos de Hard Rock, o que não foi de modo algum prejudicial à sonoridade típica do grupo e permitiu uma turnê por parte da Europa. A partir de então, a banda sofreu mudanças constantes, sendo que Doro foi o único integrante a permanacer o tempo todo com o Warlock. Nesta época, Rudy Graf deu lugar a Niko Arvanitis. 

Warlock em 1986.

   Essa nova formação gravou o terceiro álbum, True As Steel (1986), que levou o grupo ao festival Monsters of Rock, onde naquele ano passaram nomes com Scorpions e Def Leppard e também abriu as portas para o grupo nos EUA, reconhecimento devido principalmente ao single "Fight For Rock". O que se sucedeu foram mais mudanças na formação, com a substituição de Frank Rittel e Peter Szigeti por Tommy Bolan e Tommy Henriksen, respectivamente. E foi esse o line-up responsável pela gravação do quarto e último álbum do Warlock, Triumph And Agony (1987), que foi também aquele a atingir maior sucesso, alavancado principalmente pelo single "All We Are", cujo clipe foi bastante transmitido pela MTV. Após a turnê de divulgação de Triumph And Agony, surgiram diversos problemas devidos aos direitos relacionados ao nome Warlock. É conhecido que a banda tinha o quinto álbum já gravado, que já tinha até um título, Force Majeure, mas devido a estes problemas, este álbum foi lançado com o nome de Doro, e não mais do Warlock. E com isso se deu o início da carreira solo daquela que muitos clamam como a Rainha do Metal, que perdura até hoje e é sem dúvida a maior inspiração para as mulheres que sentem o Heavy Metal correndo em suas veias.

Capa de Force Majeure (1989): primeiro registro da carreira solo de Doro, porém gravado sob o nome Warlock.
  
    Os nomes mais expressivos da década de 1980, em termos da presença feminina no Heavy Metal, vieram do velho continente, como visto acima. Entretanto, os EUA também teriam suas representantes. Além disso, com a evolução deste gênero, em termos de peso e velocidade, vieram também outras mulheres com o intuito de levantar a bandeira do Heavy Metal, o que será explorado na próxima postagem.
  

segunda-feira, 12 de março de 2012

As mulheres e o Heavy Metal: as precursoras

      O Heavy Metal se tornou ao longo dos anos, perante o senso comum, um estilo musical extremamente machista, além de outras "qualidades" altamente difundidas, em parte devido aos meios de comunicação, e que são em sua maioria resultado de mal intepretação ou puro preconceito. Pelo fato de o Heavy Metal preconizar temáticas que usualmente vão contra os valores pré-estabelecidos pela sociedade em geral, e que normalmente são abordados de uma forma agressiva, seja do ponto de vista musical ou no conteúdo das letras, se tornou um gênero musical que não combinava com o que era proposto como a natureza feminina, em essência o "sexo frágil", segundo os padrões sociais vigentes, predominantemente machistas. Mas, contrariando todos os prognósticos, nos dias de hoje é relativamente fácil encontrar mulheres envolvidas com o Heavy Metal (felizmente!), o que ocorreu conforme se deu uma maior divulgação e quebra de alguns paradigmas, ou mitos, relacionados ao Heavy Metal ao longo dos anos, e que atingiu o seu ponto alto com a avalanche de grupos de Gothic Metal na última década, liderado principalmente pelo Nightwish. Entretanto, a caminhada das mulheres dentro da música pesada remonta aos anos 1960, quando pela primeira vez se viu uma mulher entre os gigantes desse meio sempre taxado por ser exclusividade dos homens.

Nightwish na época de Tarja Turunen: apesar de bem sucedida comercialmente, é só a ponta do iceberg em termos de inclusão das mulheres no Heavy Metal.
       O primeiro passo para a inserção das mulheres no Rock foi dado por Janis Joplin. A carreira de Janis Joplin se deu no período que o Rock passava por suas primeiras transformações, se distanciando da fórmula que imortalizou nomes como Elvis Presley, Chuck Berry, Roy Orbison, entre outros. Janis trouxe muita influência do Blues e do Folk para a sua música, o que a colocou na vanguarda de sua época. Teve seu início musical, a nível profissional, quando integrou um grupo de São Francisco chamado Big Brother and the Holding Company, uma das bandas precursoras do movimento hippie. Nessa época, Janis já era conhecida pelo seu envolvimento com álcool e drogas pesadas, como anfetaminas e heroína. Mas foi em carreira solo, a frente de um grupo por ela batizado Kozmic Blues Band que Janis atingiu o estrelato, se apresentando em diversos programas de TV, o que lhe garantiu grande popularidade. Mas o ápice da carreira de Janis Joplin veio com a apresentação no Woodstock Music & Art Fair, ou Woodstock, o lendário festival de 1969. No início de 1970, Janis deu início a um novo grupo, Full Tilt Boogie Band, com o qual chegou a tocar ao lado do Grateful Dead. Entretanto, a escalada na carreira de Janis foi acompanhada com o consumo cada vez maior de entorpecentes, sendo que no dia 4 de Outubro de 1970, após um atraso em um dos ensaios do Full Tilt Boogie Band, o produtor à época a encontrou morta, devido a uma overdose de heroína, que se acredita ter ocorrido em combinação com altas doses de álcool. Ainda que tenha morrido jovem, aos 27 anos, a carreira de Janis Joplin foi mais do suficiente para que fossem abertas as portas para as mulheres no meio do Rock.

Janis Joplin em 1969, no festival Woodstock.
       A exemplo de Janis Joplin, outras mulheres também lutaram pelo seu espaço dentro do Rock, ainda que não tenham conseguindo o mesmo nível de reconhecimento. O Jefferson Airplane, estabelecido em São Francisco, também conseguiu atingir certo patamar de popularidade quando teve Grace Slick como vocalista. Grace trouxe duas composições a serem gravadas no álbum Surrealistic Pillow (1967), as quais foram intituladas "Somebody To Love" e "White Rabbit". Coincidência ou não, foram os dois maiores sucessos da carreira do Jefferson Airplane, e figuram na lista "500 Greatest Songs of All Time" publicada pela Rolling Stone. O auge do Jefferson Airplane se deu durante o período que teve Grace como vocalista, o que se mostrou um incentivo para uma maior participação feminina dentro no universo do Rock. O Fleetwood Mac, que foi um fenômeno na década de 1970 contava com Christine McVie como tecladista. Sua participação sempre foi expressiva dentro do grupo, contribuindo com composições entre as mais importantes dos emblemáticos álbuns Fleetwood Mac (1975) e Rumours (1977), que atingiu o topo das paradas norte-americanas e chegou a receber o Grammy naquele ano. Outra mulher que foi símbolo da escalada feminina dentro do Rock foi Suzi Quatro, cujos álbuns, principalmente aqueles gravados durante o início dos anos 1970, conseguiriam atingir vendagens expressivas na Europa e Austrália. 

Grace Slick em 1969: uma das responsáveis pelo sucesso do Jefferson Airplane.

Suzi Quatro em 1973, umas das embaixadoras britânicas das mulheres no Rock.
  
        Mas contribuição mais direta do que as listadas acima seria dada pelo The Runaways, primeira banda de Rock formada apenas por mulheres a atingir um nível significativo de reconhecimento. O grupo foi idealizado por Joan Jett, guitarrista, no fim de 1975 e contava inicialmente com Sandy West na bateria e Micki Steele como baixista e vocalista. Em 1976 o grupo recrutou Lita Ford, apresentando assim duas guitarristas. Com a expulsão de Steele, a banda trouxe Cherrie Currie e Jackie Fox, para os vocais e baixo, respectivamente. Neste mesmo ano o The Runaways gravou o seu primeiro álbum, autointitulado, e abriu shows de bandas como Cheap Trick e Van Halen. Com o segundo álbum, Queens Of The Noise (1977), a banda conseguiu reconhecimento a nível mundial, mas começava a se distanciar do Hard Rock e se aproximar do Punk Rock que surgia na época. A turnê mundial desse álbum levou ao primeiro ao vivo, Live in Japan (1977). A banda teve a saída de Cherrie Currie, com a posterior gravação de um novo álbum, Waitin' For The Night (1978). Entretanto, pouco tempo depois da gravação do próximo álbum, And Now... The Runaways (1978), o grupo se desfez devido principalmente a problemas financeiros e relacionados ao gerenciamento da banda. Contudo, o legado do The Runaways ficou para a história e teve grande impacto sobre as mulheres que ainda iriam trilhar o caminho do Heavy Metal. Vale lembrar que Lita Ford e Joan Jett tiveram carreiras solo bem prolíficas, principalmente ao longo da década seguinte.

As garotas do The Runaways em 1976: talvez o maior incentivo a presença das mulheres no Heavy Metal.
    As bandas e artistas acima foram aquelas que tiveram maior impacto direto na inclusão das mulheres na música pesada e foram de vital importância para a entrada das mulheres no terreno mais extremo da música naquele momento: o Heavy Metal, o que viria a acontecer tão logo desse início a década de 1980, com o revival do estilo, conhecido como NWOBHM, que será discutido na próxima postagem.
               

domingo, 4 de março de 2012

A Intersecção Hard Rock / Heavy Metal (Parte III)


     A década de 1980 trouxe transformações drásticas em todos os aspectos do universo musical. Nessa época a aliança entre o Heavy Metal e o Hard Rock estava cada vez mais consolidada, prova disso foi a ascensão do Quiet Riot, que mostrou que esses estilos poderiam ser populares, e consequentemente, poderiam ter potencial mercadológico.
    As mudanças no cenário musical foram tão profundas nesse período, que nem o KISS, um dos pilares do Hard Rock, saiu ileso em meio ao sucesso da união do estilo que os consagrou com o Heavy Metal. Com a saída de Ace Frehley e Peter Criss, as decisões eram tomadas única e exclusivamente por Gene Simmons e Paul Stanley, aos quais o aspecto financeiro sempre falou alto. E com isso, o grupo deu início a uma fase bastante influenciada pelo Heavy Metal, em união ao Hard Rock de sempre, que foi o guia da sonoridade dos álbuns do quarteto mascarado na década 1980, que por sinal deixou as pinturas de lado.

Capa do álbum Lick It Up (1983): as mudanças desse período não se limitaram a esfera musical.

    Por falar em KISS, na década de 1970, Jay Jay French fez um teste para ser guitarrista do grupo, mas não foi bem sucedido, e resolveu montar a sua própria banda, o Twisted Sister, em 1972.  Nos primeiros anos, a banda teve um direcionamento ditado pelo Hard Rock da época, mas com a entrada de um novo vocalista, Dee Snider, em 1976, a banda passou por uma mudança irreversível em sua sonoridade. Dee Snider tinha uma base musical alicerçada no Heavy Metal, e esteve sempre ligado nas bandas que surgiram sob essa vertente, notadamente durante a NWOBHM, trazendo boa parte do que ouvia para o Hard Rock do Twisted Sister. Os dois primeiros álbuns, ainda que muito bons, ainda não davam frutos, comercialmente falando. Mas a sorte estava a ponto de mudar com o lançamento de Stay Hungry (1984). Com ele a banda atingiu o reconhecimento que procurava há quase 10 anos, com as faixas "We’re Not Gonna Take It" e "I Wanna Rock", para as quais foram também gravados clipes, transmitidos à exaustão. A popularidade do Twisted Sister foi tamanha que Dee Snider chegou a gravar um comercial convocando os jovens norte-americanos a se alistaram nas forças armadas deste país.

Twisted Sister em 1984 no auge de sua popularidade, mérito dos singles We're Not Gonna Take It e I Wanna Rock

     Em meio à efervescência da fusão Hard Rock / Heavy Metal, teve nascimento a MTV, que deve muito de sua sobrevivência e crescimento principalmente a esses dois estilos. O lançamento do clipe "Home Sweet Home" do Motley Crue, ainda nos primórdios da emissora, fez tamanho sucesso que ficou por vários meses como sendo o clipe mais exibido na grade de programação, o que fez com que dirigentes estabelecessem um limite de tempo semanal  dedicado ao Mötley Crüe, que ficou conhecido como Crüe Rule, o que é mais uma evidência do sucesso atingido pelo Hard Rock e Heavy Metal neste período.
    Mas o maior integrante dessa nova safra de bandas norte-americanas ainda estava por vir. Em 1987 o Guns'n'Roses trazia ao público o álbum "Appetite For Destruction", com alguns dos maiores clássicos não só do híbrido Hard Rock / Heavy Metal, como do Rock em geral, entre os quais "Welcome To The Jungle", "Paradise City" e o maior sucesso de Axl, Slash e cia, "Sweet Child O’Mine". Prova da popularidade do Guns'n'Roses foi encabeçar a trilha sonora do filme Exterminador do Futuro 2, com o sucesso "You Could Be Mine", de Use Your Illusion I e II, que emplacou também "Don’t Cry" e cover de “Knockin’ On Heaven’s Door”, de Bob Dylan.

Formação clássica do Guns'n'Roses, sendo ela responsável por seus álbuns mais expressivos.
 
    Em 1984, o Def Leppard viu o seu baterista Rick Allen perder um dos braços em um acidente, o que fez com que o "Leopardo Surdo" fosse dado como morto. Porém, mostrando um nível louvável de superação, Rick Allen voltou às baquetas do Def Leppard, com um instrumento adaptado, e em parte graças ao sucesso de High'n'Dry (1981) e Pyromania (1983) na América, a banda atingiu o topo das paradas em 1987 com o Hysteria, o maior sucesso, do ponto de vista comercial, do quinteto de Sheffield. Esse álbum, que teve como os maiores responsáveis por esse sucesso os singles "Women", "Love Bites" e "Pour Some Sugar On Me” deixa claro que o Def Leppard havia se tornado um típico grupo de Hard Rock / Heavy Metal da época. Assim, este movimento era liderado basicamente por Mötley Crüe, Def Leppard e Guns'n'Roses.

Arte de Hysteria (1987), o álbum que levaria o Def Leppard ao topo das paradas norte-americanas.

     Se aproximando do fim da década de 1980, surgiu o último gigante do misto entre Hard Rock e Heavy Metal, o Skid Row. As baladas do Skid Row eram certeiras em termos de sucesso comercial, e não é a toa que a banda tem como maiores sucessos "18 and Life" e "I Remember You", do primeiro álbum, Skid Row (1989), que atingiu as primeiras posições nas paradas americanas, que trazia também parte da sonoridade do Glam Metal. Vale lembrar que o Glam Metal, ou Hair Metal, não é muito bem definido, sendo que por várias vezes Guns'n'Roses, Def Leppard e o próprio Skid Row chegaram a ser englobados nessa categoria. Com Slave to the Grind (1990), a banda apostou alto no peso do Heavy Metal, e só conseguiu emplacar a balada "In a Darkened Room", e com certa expressão, a faixa "Monkey Business", mas que não teve o mesmo êxito do álbum anterior, e já dava indícios que o mercado não estaria mais acessível a esse tipo de sonoridade, daquele momento em diante.

Skid Row, à época do lançamento de seu primeiro álbum, homônimo (Skid Row, 1989).

     A partir da segunda metade da década de 1980 surgiram inúmeras bandas inspiradas pelo Hard Rock / Heavy Metal. Para citar algumas delas, temos o Warrant, que ficou chegou a obter certo reconhecimento, devido principalmente ao single "Cherry Pie" (1990). O Europe, que apesar de proveniente da Suécia, guardava certa semelhança musical com as bandas americanas, e em 1986 ficou imortalizado com o álbum e a faixa "The Final Countdown". O Canadá contou com algumas bandas nesse cenário, sendo que a maior contribuição veio do Triumph, Loverboy e Firehouse. E outras ainda ajudaram a aumentar esse movimento, como o Great White, Extreme, Autograph, Tesla, e muitas outras.

Capa de The Final Countdown (1986), cuja faixa-titulo foi um dos mais emblemáticos hits dessa época.

    Com a virada da década de 1990, o Hard Rock, o Heavy Metal e todos os seus descendentes diretos estavam com os dias contados em relação ao mercado fonográfico. O início da nova década marcou o surgimento do Grunge, prontamente apoiado pelas grandes gravadoras da época e pela MTV, que tiraram as vertentes mais pesadas do Rock do meio popular, com exceção de alguns poucos casos, como o Metallica, que mesmo nesse meio conturbado lançou o multiplatinado "Metallica" (1991), mais conhecido como Black Album, mas que evidentemente não era mais o Thrash Metal de outrora. A partir de então, com exceção de casos pontuais, como o ressurgimento do Guns'n'Roses e suas apresentações de grande porte, a intersecção Hard Rock / Heavy Metal nunca mais conseguiu repetir os feitos de sua época de ouro.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A Intersecção Hard Rock / Heavy Metal (Parte II)


       Inglaterra e EUA formaram por muito tempo uma espécie de monopólio do Rock, no que diz respeito ao fato de que durante os primeiros anos eram provenientes desses países as bandas que ditavam as tendências desse gênero musical. Entretanto, o panorama estava a ponto de mudar e algumas bandas de outros países seriam consagradas tendo como base de sua sonoridade a conjunção entre Hard Rock e Heavy Metal.
      No início dos anos 1970 a Alemanha via surgiu sua primeira grande banda de Rock, o Scorpions. O Scorpions foi fundado pelos irmãos Rudolf e Michael Schenker, que logo foi recrutado pelo grupo britânico UFO, e mesmo sem falar uma única palavra em inglês, foi um dos responsáveis pela gravação de um dos discos mais emblemáticos e influentes da história do Hard Rock, Phenomenom (1974), e que o colocou entre os maiores guitarristas da época. Para o seu lugar o Scorpions trouxe Uli Jon Roth, que ficou conhecido como "Hendrix alemão", mas não seria ele ainda o responsável pelo sucesso mundial do Scorpions, e acabou deixando a banda após a turnê do álbum Taken By Force, que resultou no aclamado ao vivo Tokyo Tapes. 
     O substituto de Jon Roth seria Matthias Jabs, o guitarrista de maior longevidade no Scorpions, ao lado de Rudolf Schenker. E graças a ele, o Scorpions deu início a sua escalada rumo ao sucesso mundial. Jabs trouxe muita influência do Heavy Metal, e soube como poucos mesclá-lo com o Hard Rock, marca registrada do Scorpions. E com isso veio uma sucessão de clássicos, como o seu debut Lovedrive (1979), seguido por Animal Magnetism (1980), e ponto alto da carreira do Scorpions, com os álbuns Blackout (1982) e Love at First Sting (1984), os quais trazem riffs históricos como os encontrados em "Blackout", "No One Like You", "Dynamite", "Rock You Like a Hurricane", "Big City Nights", entre outros.

Capa do álbum Blackout (1982), que ao lado de Love At First Sting (1984), marcou o auge do Scorpions, bem como deixou bem claro as referências ao Heavy Metal em meio ao típico Hard Rock dos alemães.

      A exemplo do Scorpions, a Irlanda foi muito bem representada pelo Thin Lizzy, que já tinha em Rory Gallagher um de seus maiores embaixadores do Rock. O Thin Lizzy, apesar de ser uma banda que sempre apresentou uma predominância do Hard Rock, por vezes deixava transparecer influências do Heavy Metal.  Após a gravação de álbuns essenciais, como Jailbreak (1976), Black Rose: A Rock Legend (1979) e Chinatown (1980), a banda lançou o fracasso comercial Renegade (1981), que já mostrava uma banda um pouco desgastada, principalmente pelos excessos de seu fundador, líder, baixista e vocalista Phil Lynott. Para o álbum seguinte, o grupo recrutou uma das revelações das seis cordas do período da NWOBHM, o jovem guitarrista John Sykes, que havia atingido certo renome com o Tygers of Pan Tang. A mudança na sonoridade é evidente ao se ouvir Thunder and Lightning (1983), que trouxe Sykes à frente nas guitarras, sendo que é considerado por muitos como um típico álbum de Heavy Metal. 

Arte de Thunder and Lightning (1983): o álbum mais metálico do grupo, graças a John Sykes

      Entretanto, Sykes deixaria o Thin Lizzy pouco tempo depois da gravação de Thunder and Lightning, para se juntar ao Whitesnake, o que acarretou em mais mudanças no panorama do Hard Rock. Com ele, o Whitesnake definitivamente deixaria a sombra do Deep Purple, adotando um som mais comercial e atual para a época. E não demorou muito para que essa nova roupagem fosse observada e desse seus frutos. De fato, os dois álbuns gravados por ele trazem os dois maiores hits do Whitesnake, Love Ain't No Stranger (Slide It In, 1984) e Is This Love (Whitesnake, 1987), sendo esse último álbum o mais expressivo do grupo liderado por David Coverdale, do ponto de vista mercadológico.

Line-up do Whitesnake em 1984 (Cozy Powell, David Coverdale, John Sykes e Neil Murray) e que começaria a colocar o Whitesnake como um dos gigantes do Hard Rock, e isso graças ao Heavy Metal trazido por John Sykes.

      Entretanto, nessa época as coisas estavam bem diferentes do outro lado do Atlântico, principalmente na região da Califórnia conhecida como "Sunset Strip", nos arredores de Los Angeles. Este foi o berço de um novo estilo batizado como "Glam Metal", que combinava as sonoridades típicas do Heavy Metal e Hard Rock, bem como o visual afetado e extravagente do Glam Rock da década anterior, remetendo a nomes como Slade, T-Rex, The Sweet, New York Dolls, entre outros. Agora, a temática tinha as mulheres e o sexo como foco, de uma forma consideravelmente explícita. Porém, os limites dessa nova vertente nunca foram muito bem demarcados, bem como a denominação, que não é aceita de forma unânime. Bandas como Mötley Crüe, Dokken, LA Guns e Ratt estavam entre as maiores responsáveis pela difusão desse novo híbrido na costa oeste dos EUA, no qual em alguns casos o aspecto visual se tornava prioritário, em detrimento da sonoridade. Esse movimento também contava com representantes em outros estados, como o Poison e Cinderella.

.Ratt em 1984: visual um "pouco" carregado para os padrões até então.
     Apesar de não ser uma banda de Glam Metal propriamente dita, o Quiet Riot partilhava grande parte das influências e tendências dos grupos citados acima, alén de ter nascido em Los Angeles. Os seus dois primeiros álbums, Quiet Riot I e Quiet Riot II, contaram com o seu guitarrista e fundador Randy Rhoads, que viria a ser imortalizado ao lado de Ozzy Osbourne na gravação dos antológicos Blizzard of Ozz (1980) e Diary of a Madman (1981), mas com eles o Quiet Riot não atingiu expressão no cenário musical. Com a saída de Randy Rhoads para fazer parte da carreira solo do Príncipe das Trevas, a banda passou a contar com os serviços de Carlos Cavazzo como substituto. Técnica a parte, foi com ele que o Quiet Riot estourou, atingindo o ápice da convergência entre o Hard Rock e o Heavy Metal, com isso chegando ao topo da Billboard com o álbum mais vendido, sucesso alavancado principalmente pela faixa-título e o cover do Slade "Cum On Feel The Noize". Com isso, o Quiet Riot conseguia colocar o Heavy Metal e o Hard Rock como um estilo musical de apelo popular.

Arte de Metal Health (1983): com ele o Quiet Riot colocou o Heavy Metal e o Hard Rock no topo do mercado fonográfico.
     O Quiet Riot finalmente colocava o o Heavy Metal e o Hard Rock em uma situação inédita, ou seja, ser a banda mais popular do maior mercado musical do mundo. Esse feito abriria as portas para que a união desses estilos ocupasse um lugar de destaque até o fim da presente década, como será analisado no próximo artigo.